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Justiça Restaurativa se consolida como prática para solução de conflitos sociais

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Há dois meses, quando um dos telefones da 5ª Vara do Sistema dos Juizados Especiais Criminais do Largo do Tanque, em Salvador, tocou, a atendente judiciária Isabela Bulos pensou logo em mais uma queixa, e que se juntaria às dezenas chegadas todos os dias àquela unidade.

Mas do outro lado da linha, naquela manhã, Pedro da Silva – assim vamos chamá-lo – queria somente agradecer a todos da unidade pela solução de um conflito, um ano antes, próximo ao Natal, que afetou as relações entre a sua família e os vizinhos. “Estamos, agora, vivendo um final de ano tranquilo”, disse Pedro, agradecido.

Ao narrar o fato, durante uma reunião de avaliação entre magistrados, servidores, promotores, advogados e colaboradores das 5ª e 6ª varas dos juizados, localizados no Largo Tanque, a atendente exclamou: “Já pensaram, e justamente o ofensor, ligar para o Juizado, para agradecer!”

Presente ao encontro, a desembargadora Joanice Maria Guimarães de Jesus, que coordena o Núcleo de Justiça Restaurativa do Tribunal de Justiça, creditou a ligação telefônica a um reflexo positivo deste modelo que vem sendo usado na avaliação e julgamento dos conflitos entre as pessoas.

Essa nova forma, disse a desembargadora, é a Justiça Restaurativa, que consiste, não na aplicação de medidas punitivas, mas na reparação do prejuízo oriundos do delito causados às partes envolvidas, e sempre que possível, com a restauração das relações sociais rompidas.

“Não que se deva desprezar os códigos, mas sim buscar a valorização do ser humano, usando, adequadamente, os meios legais na solução dos conflitos”, completou a desembargadora, ressaltando a importância da participação da comunidade em que se encontram os ofensores e os ofendidos.

Daí, explica ela, é que as 5ª e 6ª Varas do Sistema dos Juizados Especiais Criminais promovem sessões com ofensores e ofendidos e quando possível integrantes da comunidade onde eles vivem, antes de as queixas se transformarem em processos judiciais.

Durante essas sessões, nos casos de crimes de pequeno potencial ofensivo, as partes são ouvidas, à vista de representantes do Ministério Público, de mediadores, psicólogos, assistentes sociais, quando se busca uma solução, de modo a trazer benefício a todos os envolvidos.

O juiz Jonny Maikel, da 6ª Vara, lembra que nem todos os casos vão para as sessões da Justiça Restaurativa, mas aqueles em que a conscientização das partes seja mais importante. “Há casos em que justiça punitiva deve ser aplicada, mas há outros em que a restaurativa traz melhores resultados para a sociedade”.

Há os desentendimentos entre vizinhos devido a barulhos fora do horário permitido, por exemplo. “Tem pessoas que vêm com casos de som alto, que sempre terminam em briga, então já se define com os atendentes, uma sessão restaurativa, não precisa se o juiz a decidir”, explicou a juíza Maria Fausta Cajahyba, da 5ª Vara do Juizado.

Ou então, como exemplificou a desembargadora Joanice Maria Guimarães de Jesus, casos de pessoas que urinam na rua. “Punir nem sempre é o melhor resultado, pois pode se tratar de uma questão cultural, então se pensamos na conscientização, o caminho são medidas restaurativas”.

“O Direito está evoluindo, os caminhos agora são mais no sentido de restabelecer e restaurar as relações”, disse Ana Carolina Benevides, integrante do Comitê Gestor do Núcleo de Justiça Restaurativa, ressaltando o objetivo desse novo paradigma da Justiça, de “transformar o conflito em algo construtivo”.

Em funcionamento há cerca de 10 anos no Brasil, a prática da Justiça Restaurativa tem se expandido pelo país, sob o incentivo do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), aplicando uma técnica de solução de conflitos que prima pela criatividade e sensibilidade na escuta das vítimas e dos ofensores.

Em novembro deste ano, o CNJ aprovou a Meta 8, entre as que definiu para 2016, para incentivar o uso da Justiça Restaurativa, como perspectiva de solução de conflitos que envolve a aproximação entre vítima, agressor, suas famílias e a sociedade na reparação dos danos causados por um crime ou infração.

Segundo o texto aprovado na plenária final do 9º Encontro Nacional do Poder Judiciário, os 27 tribunais da Justiça estaduais deverão, até o final de 2016, implementar projeto com equipe capacitada para oferecer práticas de Justiça Restaurativa, implantando ou qualificando pelo menos uma unidade para esse fim.

A desembargadora Joanice Maria Guimarães de Jesus, representante do Judiciário baiano nas questões da Justiça Restaurativa, destaca que esta prática já integra a política do Tribunal de Justiça da Bahia, citando a realização de seminários voltados para os diversos setores da sociedade.

Texto: Ascom TJBA / Foto: Nei Pinto

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